“O São Paulo que eu deixei não vai existir mais”, afirma campeão mundial pelo clube

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15 de fevereiro de 2023

Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net
Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net

Nenhuma geração de jogadores ganhou tanto título pelo São Paulo quanto a que atuou no início dos anos 1990, com direito a duas conquistas de Conmebol Libertadores e outras duas do Mundial de Clubes, em formato diferente do torneio atual. Só por fazer parte daquele time, Pintado sabe o que é e qual o caminho para ser campeão com a camisa tricolor.

Mas a opinião do ex-volante ganha ainda mais relevância porque, além da fase gloriosa das conquistas, ele conheceu uma parte da época de vacas magras, pois foi auxiliar fixo da comissão técnica entre 2016 e 2017. O retorno ao Morumbi, apesar de sonhado, o fez encarar a realidade dura para quem se importa com o clube.

“O São Paulo que eu deixei não vai existir mais”, afirmou o ex-volante, hoje técnico da Inter de Limeira, adversária do Tricolor nesta quarta-feira (15), no Morumbi, pelo Campeonato Paulista. Em entrevista exclusiva à ESPN, Pintado relembrou suas duas passagens pelo clube e comprovou, na pele, que recolocar o time na primeira prateleira do futebol brasileiro será uma tarefa ingrata.

“Mundo mudou, futebol mudou, mas eu tinha aquela esperança de encontrar alguma coisa do São Paulo do Telê, um time ganhador. Depois de algum tempo, não existe mais nada daquilo. Aquele São Paulo que ganhou muito não existe mais. Me deu uma certa tristeza”, falou Pintado, sobre a passagem como auxiliar há sete anos.

“Mas ao mesmo tempo me despertou uma intenção de ajudar, de fazer alguma coisa, de tentar me posicionar porque pensava que era a minha responsabilidade. Vendo coisa errada eu tinha que me posicionar. O mínimo que eu tinha que fazer. Ficar 20 anos no São Paulo era fácil, era ficar quietinho, pegando bola atrás do gol. Mas não fui para isso, não sonhei em voltar para ser mais um”.

Como volante, Pintado foi duas vezes campeão paulista pelo São Paulo (1985 e 1992), ganhou duas Libertadores (1992 e 1993) e fez parte do primeiro elenco campeão mundial pela equipe, em 1992, contra o Barcelona. Seguiu carreira fora do Morumbi até retornar em 2016, quando trocou o cargo de técnico do Guarani pelo de auxiliar no Tricolor.

Trabalhou com o argentino Edgardo Bauza, depois com Ricardo Gomes e estava no clube quando Rogério Ceni assumiu pela primeira vez, em 2017. Pintado o conhecia desde que Ceni era terceiro goleiro do time de cima, atrás de Zetti e Alexandre. A convivência naquela época o fez criar uma expectativa que as coisas mudariam para melhor no Morumbi, mas a demissão meses depois acabou com o sonho.

“Rogério é um cara inteligentíssimo, não precisa de muito tempo para preparar, para ter experiência. Rogério conhece o São Paulo como ninguém, rapidamente absorve as coisas e consegue resolver o que gente com experiência não conseguiria. A gente criou uma esperança muito grande. Culminou em uma eleição, que o nome do Rogério ajudou a eleger um presidente, mas qualquer treinador do São Paulo precisa de tempo, não vai reconstruir o clube com pouco tempo com as possibilidades que tem hoje”.

Ceni voltou em 2021 e segue no comando tricolor até hoje, apesar de enfrentar críticas e questionamentos sobre a falta de resultados. Em 2022, por exemplo, foi duas vezes vice-campeão, do Paulista e da Copa Sul-Americana. Para Pintado, não há alguém mais capacitado para treinar o São Paulo no momento do que ele, mas o problema é maior do que apenas o nome do técnico.

A crise econômica coloca o clube em menor evidência do que alguns rivais, como Flamengo e Palmeiras, que são os times que dominam o futebol nacional há alguns anos. Pintado não vê o São Paulo em condições de diminuir a desvantagem a curto prazo, mas acredita que parte da solução seja equilibrar o investimento no futebol ao cuidado com as finanças e a construção de um time competitivo.

“Tenho isso muito claro. São Paulo não tem que dar lucro, tem que dar títulos. Para isso, exige investimento, trabalho, conhecimento do que se está fazendo. Então não é algo simples que vai reconstruir um clube, que vai estar entre os 3 primeiros do Brasil. Hoje o São Paulo está atrás”, afirmou Pintado.

“Acho que não é primeiro ganhar título e depois resolver o problema. As duas coisas estão ligadas. Tem que andar juntos. Cada um na sua área, na gestão, na área financeira. Não tem que ficar preocupado em contratar jogador, para isso existem dois especialistas [Rogério e Muricy]. Vejo um único caminho. São Paulo tentou muita coisa e não deu certo. Hoje o caminho são as pessoas certas”.

É contra Rogério Ceni que Pintado tentará algo raro em sua carreira como técnico: vencer o São Paulo. Em dez jogos, todos de Campeonato Paulista, os times de Pintado ganharam duas vezes: em 2012, pelo Linense, e depois em 2019, com o São Caetano. O ex-volante não esconde que voltar ao Morumbi será emocionante, mas busca soluções – para sair vitorioso com a Inter e também ver o Tricolor recuperar o sucesso de outros tempos.

“Antes de pensar no meu jogo eu lembro das coisas que vivi no São Paulo. É muito forte tudo que eu vivi, é muita alegria o que eu passei no São Paulo. Falar do São Paulo já lembro de tudo, histórias, minha vida. É muito bacana. E aí fica avaliando: poxa vida, como que a gente vai fazer, como o São Paulo vai voltar a ser daquele tamanho, ser um ganhador de novo? A gente fica tentando arrumar soluções. Mas não é mais problema meu, e sim das pessoas que estão lá”.

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