De sonho a pesadelo: A dívida bilionária do Corinthians com a Arena
Quando Andrés Sanchez, em seu primeiro mandato como presidente do Corinthians, anunciou a construção do estádio do clube em 1º de setembro de 2010, afirmou que a obra custaria R$ 335 milhões. No ano seguinte, a arena em Itaquera, na zona leste de São Paulo, foi anunciada como o local da abertura da Copa do Mundo de 2014. Na época da inauguração do campeonato, o preço final da obra havia saltado para R$ 985 milhões (R$ 1,9 bilhão em valores corrigidos), bem acima do custo original.
Aumento dos Custos Parte desse aumento é atribuída às estruturas provisórias que o estádio teve durante o Mundial, como as arquibancadas temporárias que aumentavam a capacidade de 48 mil para 64 mil lugares. O Corinthians não jogou no local antes da remoção dessas estruturas.
Dívida e Disputas Internas Durante anos, o cálculo exato da dívida pela nova arena foi motivo de disputas internas no Parque São Jorge. Em 2019, uma comissão do Conselho Deliberativo apontou que o clube devia R$ 1,03 bilhão à Odebrecht, construtora responsável pela obra, além do financiamento com a Caixa Econômica Federal. Andrés Sanchez contestou esse valor, alegando que partes da obra não foram concluídas e que o clube havia repassado cerca de R$ 380 milhões à Odebrecht por meio de CIDs (Certificado de Incentivo ao Desenvolvimento). Em setembro daquele ano, a Odebrecht e o Corinthians anunciaram um acordo para encerrar a dívida, com o clube concordando em pagar R$ 160 milhões.
Estrutura Financeira do Projeto O projeto original do estádio era de autofinanciamento. A Odebrecht pagaria pela obra com seus recursos e recuperaria o dinheiro com receitas geradas pela arena. O financiamento incluía um empréstimo da Caixa no valor de R$ 400 milhões e os CIDs cedidos pela prefeitura, estimados em R$ 420 milhões. Receitas da exploração comercial da arena, como a venda dos “naming rights”, eram esperadas para ajudar no pagamento da dívida, mas a demora para concretizar essas vendas inflacionou a dívida com a Caixa.
Dívida Atual De acordo com um relatório da consultoria EY divulgado no final de maio, o clube ainda deve R$ 703 milhões à Caixa. A dívida é reajustada pelo CDI (Certificado de Depósito Interbancário) mais 2% ao ano. Em 2023, o clube começou a pagar apenas os juros do financiamento, com o valor principal começando a ser quitado a partir de 2025. O Corinthians tem até 2041 para quitar o débito.
Impacto na Saúde Financeira do Clube A dívida bilionária impacta significativamente a saúde financeira do Corinthians. O clube estima que já tenha pago R$ 265 milhões ao banco estatal. A consultoria EY aponta que, ao somar essa dívida com outras, o montante total é de R$ 1,58 bilhão, fazendo do Corinthians o clube mais endividado do país. A diretoria atual considera a quitação dessa dívida essencial para liberar receitas da arena e melhorar a situação financeira do clube.