Depois de 11 partidas incrivelmente longas, a seleção chilena conseguiu uma vitória na última terça-feira (19) e, além do retorno de Arturo Vidal, um certo Luciano Cabral também contribuiu para a boa atuação. Não é estranho não saber quem é. Cabral não tem muitos registros como profissional, já que passou mais de 5 anos na prisão.
De vez em quando, um jogador de futebol se desvia e acaba preso após o fim da carreira, como Ronaldinho ou Tomáš Řepka. Às vezes, há aqueles que “quebram” em uma idade produtiva, arruinando a carreira (Adam Johnson), ou até mesmo uma simples acusação criminal (Benjamin Mendy).
Luciano Cabral foi preso por nada menos que um envolvimento no assassinato de seu vizinho, originalmente por 9 anos e meio.
Antes da acusação, o meio-campista era considerado um grande talento que poderia passar a maior parte da carreira na Europa, de preferência em um clube da elite. Na juventude, foi comparado ao lendário Juan Román Riquelme em termos de estilo de jogo, embora provavelmente não tivesse alcançado tal perfeição.
No entanto, o ex-jogador do Argentinos Juniors tem se mostrado um camisa 10 criativo, clássico, muito promissor e extremamente divertido de se ver em campo. E como seu avô era chileno, Cabral também se sentiu tentado a entrar para a equipe nacional do Chile.
O problema surgiu em 1º de janeiro de 2017, em Mendoza, na Argentina. Na época, Cabral tinha 21 anos e acabara de retornar ao país após um período de empréstimo não tão bem-sucedido no Athletico-PR. Infelizmente, ele se envolveu em uma briga de rua que envolvia o pai e o primo contra um vizinho com quem a família tinha problemas há muito tempo.
Os Cabrais acabaram espancando o homem de 27 anos até a morte e o tribunal condenou o pai de Cabral a 16 anos, o primo a oito e o próprio Luciano a nove anos e meio de prisão. Embora o jogador de futebol tenha se defendido dizendo que não matou ninguém e que estava apenas ajudando a família a se defender, o tribunal rejeitou a defesa.
Considerando que passaria os melhores anos de futebol atrás das grades, poucos esperariam que Cabral voltasse para seguir uma carreira profissional. Ajudado pelo bom comportamento, começou a trabalhar como embaixador de um time local do “bairro ruim” CS El Porvenir de San Rafael, onde transmitiu a experiência de vida aos jogadores mais jovens.
Em setembro de 2022, o meia saiu em liberdade condicional e seguiu direto para o Chile, onde acreditava que reiniciaria a carreira. O risco de contratá-lo valeu muito a pena para o Coquimbo Unido, onde cativou os torcedores com criatividade e maturidade técnica.
Inclusive, o jogador só pôde viajar para o Chile graças a uma confirmação do tribunal chileno, pois ainda está em liberdade condicional na vizinha Argentina. Sua vida passou de um pesadelo para um conto de fadas, integrando hoje o León, do México.
Depois de apenas um ano e nove meses, recebeu um convite para integrar a seleção do novo país natal, o Chile. Alguns torcedores pediram a convocação dele antes, pois o Chile já estava à beira da eliminação no meio da disputa. Com as constantes lesões de Alexis Sánchez, a equipe não tinha um cérebro criativo no meio-campo
Cabral entrou em campo quando o placar de 4 a 2 já era bem favorável para o Chile contra a Venezuela, agarrando a chance com unhas e dentes. Sua atuação foi fantástica. Combinou, deu a bola no primeiro toque, deu passes imaginativos e marcou no final do jogo, mas o gol foi anulado por impedimento.
O Chile ainda está longe de se classificar para a Copa do Mundo, mas ele fez exatamente o que os torcedores esperavam. A imprensa local não poupou superlativos e ele mesmo, em uma entrevista, lembrou o ídolo da seleção chilena Jorge Valdivia, que atualmente enfrenta acusações de estupro.
O jogador nunca mais será um modelo a ser seguido, mas a história de sua vida, que saiu do fundo do poço, pode ser inspiradora para alguns adolescentes dos “bairros ruins”. A vida não termina com um erro e é possível vê-la de várias maneiras. Esperemos que Cabral tenha sucesso, pelo menos em parte.